Por Gabriela Freire Valente, da equipe de Comunicação SAS Brasil

Às margens do rio Paraopeba, devastado pelo rompimento da barragem da Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho, uma comunidade rural, localizada a cerca de 22 km da cidade mineira, luta para contornar os desafios impostos pelo desastre ambiental e se estabelecer em uma área pertencente à massa falida da empresa MMX, de Eike Batista.

Embora o senso de comunidade e a ausência de alternativas tenham sido alguns dos fatores para a permanência de cerca de 400 famílias no local, o que mantém Tânia Firmina Martins no barraco modesto, cercado por uma horta verde e fresca, anda sobre quatro patas, tem pelagem fofinha e faro poderoso. “Se acontecer alguma coisa com eles, eu vou embora daqui”, diz, ao se referir ao gato Negão, ao cachorro Beethoven e às cadelas Boneca e Neguinha. “Eles são tudo para mim”.

Tânia Firmina Martins com a cadela Neguinha, uma de suas melhores amigas, antes do atendimento

A ex-catadora de material reciclável, que deixou Vitória (ES) para viver na mesma comunidade rural em que sua filha e seus netos moram, em São Joaquim de Bicas (MG) participou da ação do SAS Brasil na região de Brumadinho e correu com todos os seus “meninos” para que fossem atendidos pela equipe de médicas veterinárias do projeto Patinhas Amigas. “Se eles ficarem doentes, eu fico junto”, confessa.

Além do quarteto de quatro patas, ela também cria uma galinha, batizada com o nome literal de Galinha. Apesar da saudade que sente das vizinhas e das amigas de Vitória, Tânia conta que aquece a cama e o coração ao dormir abraçada com seus bichos de estimação.

A relação afetuosa da agricultora com seus animais foi apenas uma das dezenas testemunhadas pela equipe de voluntários do SAS Brasil. Ao longo de quatro dias de ação, o projeto Patinhas Amigas atendeu 67 animais, incluindo 51 cães, 13 gatos e até três cavalos. Entre as consultas e os procedimentos de castração, as veterinárias Gabriela Esteves, Mayra Lopes e Larissa Tavares orientavam os tutores sobre os cuidados com seus pets. “Quando cuidamos do bichinho de estimação, também cuidamos do tutor porque, muitas vezes, o animal é a maior fonte de amor e alegria para essas pessoas”, observa Gabriela.

A médica veterinária Mayra Lopes recebe um dos três cavalos atendidos pelo Patinhas Amigas

Na aldeia Naô Xohã, também atendida pelo SAS Brasil, o time de veterinárias ainda ganhou um presente especial. Um dia depois de realizar procedimentos de castração no cachorro Lobão, as médicas retornaram à comunidade para verificar sua recuperação e foram recepcionadas com o parto da cadela Vaidosa, que teve sua última ninhada com Lobão. Os cinco cachorrinhos nasceram saudáveis.

Médicas veterinárias voluntárias atenderam 67 animais na expedição SAS Brasil em Brumadinho, incluindo cachorros, gatos e até cavalos.
Médicas veterinárias voluntárias do Patinhas Amigas durante atendimento

A despeito da alegria da comunidade de índios pataxós hã-hã-hãe com os novos filhotinhos, os membros da aldeia – cerca de 150 pessoas – foram orientados sobre a importância do controle da reprodução dos animais e sobre os benefícios que a castração traz para a saúde deles. “Ver o pajé da aldeia observando a gente castrar seus animais com o maior respeito pelo nosso trabalho, independente da nossa idade ou de sermos mulheres, não tem preço”, comemora a médica veterinária Larissa Tavares. “Todos trabalhamos juntos, como uma verdadeira família”.

Fotos: Roy Bento, Antonio Filho e Gabriela Valente