Equipe do SAS Brasil esteve na região para implementar o projeto de telemedicina em dia intrigante até para os profissionais locais

— “Morreu em casa”.

— “Morreu a caminho do hospital”.

— “Chegou na UBS em um estado muito crítico, não tínhamos o que fazer”.

Essas foram algumas das frases tristes e chocantes que ouvimos com frequência nos dois dias de visita ao município do Rio de Janeiro. O SAS Brasil esteve no Complexo do Alemão, comunidade com mais de 70 mil moradores na Zona Norte da cidade, para implementar nosso serviço de telemedicina e somar esforços no combate ao novo coronavírus.

Acompanhe o projeto do SAS Brasil para enfrentar o coronavírus

A proposta é levar atendimento médico e psicológico, agendado pelo WhatsApp e com consultas por meio de videochamada, sem que as pessoas precisem sair de casa. Também montamos uma operação in loco com a equipe que vai se deslocar até a casa de pacientes com casos suspeitos de covid-19 para aferir sinais vitais, principalmente da oximetria, informação importante para mapear o risco do quadro de cada paciente.

Fomos convidados por lideranças de instituições locais, que fazem parte do Juntos pelo Alemão. E fomos muito bem recebidos. Uma das maiores satisfações que tivemos foi a de ver que grande parte dos moradores e das lideranças comunitárias está engajada em fazer a sua parte para orientar a população sobre a necessidade do uso de máscaras, cuidados com a higiene e a importância do isolamento social. É frequente ouvir carros de som passando nas ruas da comunidade com orientações nesse sentido.

Caminhando pela comunidade, também vimos faixas espalhadas e diversas iniciativas em redes sociais também têm esforços para fazer uma comunicação sobre os cuidados e os riscos da doença. Difícil é fazer isso enquanto temos um presidente da República dizendo que vai fazer churrasco em casa no fim de semana…

Esses esforços para a educação e a orientação são necessários e urgentes. O Rio de Janeiro está batendo recordes de números de óbitos diários. Na quinta-feira, dia 7/5, o município teve 189 novas mortes, ultrapassando pela primeira vez o número de São Paulo, hoje o epicentro do coronavírus no Brasil.

Cenários contraditórios: mortes em casa e UBS vazias

Ao implantar a operação de telemedicina, temos uma preocupação em somar forças com o trabalho já desenvolvido por Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA). Os profissionais dessas unidades estão fazendo um trabalho heróico na linha de frente e temos muito a aprender sobre as estratégias que eles estão usando para conseguir, com poucos recursos, atuar de maneira efetiva em um desafio tão complexo. Para aprender sobre o trabalho que está sendo feito pela equipe de Saúde, marcamos visitas a esses locais que atendem a região do Complexo do Alemão. Antes de entrar na primeira clínica, sabendo sobre esses casos de pessoas morrendo em casa ou chegando em hospitais com quadros muito críticos, imaginamos que encontraríamos essas unidades de saúde em estado crítico, com filas de pacientes e uma demanda maior do que a capacidade de atendimento.

Entretanto, para a nossa surpresa o que encontramos foi o cenário inverso. As clínicas estavam vazias, as salas destinadas para atender pacientes de covid-19 estavam sem ninguém para ser atendido. Como é possível estarmos vivendo um cenário em que existem, de um lado, UTIs e enfermarias à beira do colapso, pessoas morrendo em casa e unidades de atenção primárias vazias? O que pode estar acontecendo?

Conversando com médicos e enfermeiros dessas UBS e Clínicas da Família, ninguém soube explicar o motivo.  Até porque a mudança foi brusca. Até o fim de abril, as clínicas estavam operando no máximo de sua capacidade. A partir do começo de maio, o cenário mudou completamente. Talvez seja o medo de ir até uma unidade de saúde e de se expor a um ambiente altamente contaminado. Talvez seja a negação dos próprios sintomas, achando que não há necessidade de buscar ajuda. Talvez seja o receio de encontrar uma clínica lotada e não ser atendido.

Importância da telemedicina no cenário atual

Independente da causa, temos que atuar para orientar e atender corretamente a população. A telemedicina não vai resolver todos os problemas. O que conseguimos resolver é garantir um primeiro atendimento sem que a pessoa precise sair de casa. A partir da observação do quadro clínico do paciente, também podemos ser ágeis na orientação sobre o momento correto de buscar uma UBS. Dessa forma, queremos evitar o risco de óbitos em casa, sem que a pessoa sequer tenha tido a possibilidade de receber uma orientação médica.

Precisamos somar esforços enquanto sociedade para minimizar os danos que essa doença está causando. A telemedicina é uma peça em meio a uma engrenagem de saúde imensa e complexa que precisa funcionar para que a devastação da epidemia seja o menor possível. Se você é profissional de saúde e quer se envolver no nosso projeto, inscreva-se para participar.

Queremos registrar os nossos agradecimentos a todos os que nos receberam no Rio de Janeiro e registrar a nossa admiração aos profissionais de Saúde que estão na linha de frente. Vamos juntos fazer a diferença.